abril 05, 2012

Páscoa ontem e hoje


Os tempos mudaram. Isto é fato. Os tempos continuarão a mudar. Isto também é fato. Se para melhor ou pior, o futuro o dirá. Há quem diga que quem muda somos nós, os humanos. Pura verdade. Mas, o que somos nós, seres humanos? Filosofices à parte, como diria o nobre professor Cinéas Santos, nada mais somos que um elo dessa cadeia maravilhosa chamada de Natureza. E pertencentes a essa massa em constante movimento, está certo que mudamos. Porém, nos últimos tempos, observa-se que parte das mudanças que vêm ocorrendo na natureza, dá-se única e exclusivamente pela interferência desenfreada e desrespeitosa do homem com a mesma. As estações do ano já não estão tão bem definidas como antigamente. Nevascas fora de época, chuvas que chegam cedo demais ou que demoram a cair, calor onde antes era frio e frio onde antes era calor. Será o mar já virando sertão e o sertão virando mar?
A tecnologia tem causado mudanças rápidas e surpreendentes na vida dos seres humanos. As máquinas tornam-se cada vez mais rápidas, pois existe uma necessidade constante de que tudo seja feito de forma eficiente e, de preferência, para ontem.  A vida resume-se a ganhar muito dinheiro e a gastá-lo muito mais ainda. Já não queremos “um” carro, queremos “o” carro. Já não nos serve “uma” casa, mas “a” casa que, de preferência, tem que ser melhor que a do vizinho. Por conta disso, temos pressa, pois tempo é dinheiro. E nessa pressa perdemos a paciência no trânsito, onde cada pedaço de asfalto é disputado entre imprecações e xingamentos, buzinaços e gestos obscenos.  Mal cumprimentamos nossos vizinhos, pois já não os conhecemos. Já não existe aquela conversa amigável à porta das casas, como se fazia antigamente. Ficar conversando na porta da rua, é ver-se entre muros altos numa rua deserta, “de bobeira”, como pensaria o assaltante nos apontando um revólver antes de nos empurrar porta a dentro, de onde sairá minutos depois levando-nos as economias e, se Deus não nos guarda, até mesmo a própria vida. E já que falamos em Deus...
Quando era criança lembro-me das tradições religiosas de algumas épocas do ano, como a Páscoa, por exemplo. Já no início da semana chamada “santa”, que iniciava na segunda-feira e terminava no sábado de aleluia, começavam as abstenções. Jejum e orações em abundância. O comércio, a carne vermelha, o riso, e as brincadeiras se apareciam, transformavam-se em escândalos. Era uma infinidade de não-se-podes a perder de vista. Os passeios eram em direção às igrejas, onde contritos, relembrávamos o sofrimento do Mestre, entre lágrimas e orações.
Hoje em dia, a semana santa resume-se à sexta-feira. O sofrimento do Mestre foi substituído pela alegria do coelhinho da páscoa. Abster-se não combina com o bacalhau ao forno, os ovos de chocolates com recheios diversos, nem com a cerveja gelada. Ir à igreja pra que? O que queremos é diversão, afinal de contas, logo será a segunda-feira, quando teremos de começar tudo novamente.



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