Os
tempos mudaram. Isto é fato. Os tempos continuarão a mudar. Isto também é fato.
Se para melhor ou pior, o futuro o dirá. Há quem diga que quem muda somos nós,
os humanos. Pura verdade. Mas, o que somos nós, seres humanos? Filosofices à
parte, como diria o nobre professor Cinéas Santos, nada mais somos que um elo
dessa cadeia maravilhosa chamada de Natureza. E pertencentes a essa massa em
constante movimento, está certo que mudamos. Porém, nos últimos tempos,
observa-se que parte das mudanças que vêm ocorrendo na natureza, dá-se única e
exclusivamente pela interferência desenfreada e desrespeitosa do homem com a
mesma. As estações do ano já não estão tão bem definidas como antigamente.
Nevascas fora de época, chuvas que chegam cedo demais ou que demoram a cair, calor onde antes era frio e frio onde antes era calor. Será o mar já virando
sertão e o sertão virando mar?
A
tecnologia tem causado mudanças rápidas e surpreendentes na vida dos seres
humanos. As máquinas tornam-se cada vez mais rápidas, pois existe uma
necessidade constante de que tudo seja feito de forma eficiente e, de preferência,
para ontem. A vida resume-se a ganhar
muito dinheiro e a gastá-lo muito mais ainda. Já não queremos “um” carro,
queremos “o” carro. Já não nos serve “uma” casa, mas “a” casa que, de
preferência, tem que ser melhor que a do vizinho. Por conta disso, temos
pressa, pois tempo é dinheiro. E nessa pressa perdemos a paciência no trânsito,
onde cada pedaço de asfalto é disputado entre imprecações e xingamentos,
buzinaços e gestos obscenos. Mal
cumprimentamos nossos vizinhos, pois já não os conhecemos. Já não existe aquela
conversa amigável à porta das casas, como se fazia antigamente. Ficar
conversando na porta da rua, é ver-se entre muros altos numa rua deserta, “de
bobeira”, como pensaria o assaltante nos apontando um revólver antes de nos
empurrar porta a dentro, de onde sairá minutos depois levando-nos as economias
e, se Deus não nos guarda, até mesmo a própria vida. E já que falamos em
Deus...
Quando
era criança lembro-me das tradições religiosas de algumas épocas do ano, como a
Páscoa, por exemplo. Já no início da semana chamada “santa”, que iniciava na
segunda-feira e terminava no sábado de aleluia, começavam as abstenções. Jejum
e orações em abundância. O comércio, a carne vermelha, o riso, e as
brincadeiras se apareciam, transformavam-se em escândalos. Era uma infinidade
de não-se-podes a perder de vista. Os passeios eram em direção às igrejas, onde
contritos, relembrávamos o sofrimento do Mestre, entre lágrimas e orações.
Hoje
em dia, a semana santa resume-se à sexta-feira. O sofrimento do Mestre foi
substituído pela alegria do coelhinho da páscoa. Abster-se não combina com o
bacalhau ao forno, os ovos de chocolates com recheios diversos, nem com a
cerveja gelada. Ir à igreja pra que? O que queremos é diversão, afinal de
contas, logo será a segunda-feira, quando teremos de começar tudo novamente.